26 Junho 2018
Países com menos de dois filhos por família não têm mão de obra suficiente para manter a economia.
O artigo é de Ludovic Lado, padre jesuíta, antropólogo, nascido em Camarões, publicado por La Croix International, 21-06- 2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A próxima grande batalha da civilização será demográfica. Enquanto os "brancos" têm cada vez menos filhos, os "negros" e os "árabes" – de acordo com o controle demográfico – têm filhos demais.
É verdade que o Ocidente em geral está passando pelo que se considera por alguns um "inverno demográfico". Isso se manifesta principalmente em uma notável diminuição da natalidade.
Por exemplo, na União Europeia, a taxa de natalidade média é de 1,7 filhos por mulher. No entanto, esses dados podem mascarar diversas disparidades, pois as taxas de países como a Alemanha e a Itália estão abaixo de 1 filho por mulher.
A situação é semelhante em países da América do Norte como os EUA (1,8) e o Canadá (1,6).
Basicamente, os "brancos" não querem mais ter muitos filhos por razões econômicas, sociais e até mesmo ecológicas. Um dos principais fatores deste inverno demográfico é uma preocupação com o equilíbrio das limitações domésticas e familiares (principalmente da maternidade) e a necessidades das mulheres de alcançar realização e desenvolvimento profissional, que é um dos efeitos da política de gênero.
A descoberta do anticoncepcional na segunda metade do século passado é outro elemento crucial nessas mudanças sócio-demográficas.
Aqui, faço algumas considerações sobre o inverno demográfico do mundo ocidental - e também para a África - da Igreja Católica e na sociedade.
Uma das consequências mais evidentes para a Igreja no Ocidente é a diminuição de pessoas que optam pela vida religiosa. Além da secularização dominante, com seus efeitos devastadores sobre a prática da fé, o inverno demográfico aponta para cada vez menos jovens com o objetivo de serem padres ou irmãs religiosas.
Além disso, os recentes escândalos de pedofilia agravaram essa situação, já muito preocupante.
No Ocidente, as vocações sacerdotais e religiosas na sua forma clássica são cada vez mais raras. Os bispos estão apelando à África e à Ásia para minimizar os efeitos negativos. Ainda não se sabe se isso pode ser uma solução duradoura, principalmente porque não há garantia de que a Igreja na África não vá ter o mesmo destino nos próximos anos. Mas as consequências para a África não se limitam ao domínio eclesiástico.
Outra consequência do inverno demográfico na Europa e na América do Norte é a desestabilização do mecanismo de reprodução da mão de obra: daí a muito sutil mas eficaz política de imigração seletiva. Países com menos de dois filhos por família não terão mão de obra suficiente para manter a economia.
O inverno demográfico é uma ameaça ao equilíbrio social de algumas sociedades em que a abundância coincide com um tipo específico de individualismo. Ter um filho, portanto, parece ser um fardo que pode se tornar um obstáculo à ambição pessoal.
Assim, a lacuna na mão de obra precisa ser preenchida com pessoas de outros países, como pessoas da África.
A África, que tem uma população essencialmente jovem (quase metade é composta por jovens com menos de 15 anos), é um dos principais alvos da política de imigração seletiva. Em geral, os africanos ainda têm relativamente muitos filhos.
Na África Subsaariana, mesmo que as novas gerações pós-coloniais tenham muito menos filhos do que seus pais, a taxa de natalidade média é de cerca de 4,7 filhos por mulher, enquanto a média mundial é de cerca de 2,5. Em um país como o Níger, a média é de 7 filhos por mulher. Contudo, por causa da epidemia de AIDS, os contraceptivos têm sido muito mais usados na África. Vamos aguardar para ver quais serão os resultados disso.
No entanto, embora não esteja enfrentando um inverno demográfico, a África muitas vezes é atingida por invernos políticos e econômicos. São geradas muitas crianças, mas não meios suficientes para cuidar delas. Por isso, há elevadas taxas de pobreza.
O Ocidente quer africanos, mas também quer que eles passem por uma triagem: é aí que entra o conceito de imigração seletiva. Obviamente, o Ocidente prefere selecionar o melhor, resultando em uma fuga de cérebros do continente.
Sem reconhecimento na terra natal, muitos africanos optam por ir para o Ocidente, onde seus talentos poderão ser valorizados. É por isso que a África está perdendo seus médicos, enfermeiros, professores, engenheiros e outros profissionais. O Ocidente está oferecendo ajuda, para se manter - ou até mesmo se repopular. Por outro lado, os jovens africanos não qualificados estão embarcando nos riscos da imigração ilegal.
É difícil dizer, pois a história da humanidade é uma história de fluxos migratórios.
Mas será que buscar recursos humanos em outro lugar é uma solução sustentável para o Ocidente? O mínimo que podemos dizer é que com o inverno demográfico a raça branca corre o risco de desaparecer. Por interesse próprio e de autopreservação, é melhor frear a cultura da contracepção, para garantir que mais crianças nasçam.
O presidente francês Emmanuel Macron (entre outros) raramente fala da África sem expressar preocupação com a explosão demográfica. Por que essa obsessão?
Em vez de se preocupar com o fato de que os outros têm muitos filhos e tentar impedi-los, parece que a região se beneficiaria se tivesse mais nascimentos. Eles estão perdendo a batalha demográfica.
A África não tem interesse de continuar perdendo as pessoas mais talentosas. É uma perda de inteligências que fazem lembrar da perda de "braços fortes" nos tempos da escravidão. Em princípio, a África tem recursos suficientes para se manter. O problema fundamental é o governo.
Tentar reduzir a taxa de natalidade da África, como é o caso de algumas potências ocidentais, sem primeiro resolver que o problema de governo é mais uma ideologia do que uma solução.
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As consequências do inverno demográfico do Ocidente para a África - Instituto Humanitas Unisinos - IHU